domingo, 25 de dezembro de 2011

Doutrinando... =)

Como sempre, fui o primeiro a chegar no Centro Espírita. Já possuo a chave e, então, o abri e comecei a preparar o ambiente para nossos trabalhos. Eu sabia de antemão que a equipe espiritual, muito antes de eu chegar, já estava naquele ambiente preparando tudo "do lado de lá", então tomei muito cuidado com meus pensamentos e atitudes, para não prejudicar todo preparo que havia sido feito por nossos irmãos desencarnados. Abri as portas e janelas e uma brisa fresca circulou por todos os cômodos. Coloquei o CD com as músicas selecionadas e calmantes. Arrumei as cadeiras. Conferi se os banheiros estavam limpos e com papel higiênico. Completei a água do filtro de barro. Começou a escurecer e os trabalhadores e frequentadores começaram a chegar. No salão principal, onde logo seria feito o evangelho, eu deixei as luzes azuis acesas... um azul calmante... Rapidamente o salão se encheu. O evangelho estava prestes a começar. Eu fui até lá fora olhar para o céu que estava muito estrelado. Não passo uma única noite em minha vida sem olhar para o céu. Essa atitude me mantém humilde... me lembra como sou pequenino e como Deus é grande. Entrei e o evangelho teve início. O orador falou com maestria sobre um trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo, onde são citadas a Bem Aventuranças. Após o evangelho, a frase "graças a Deus" é o sinal para que os trabalhadores levantem do salão e se encaminhem para a sala onde ocorrerão os trabalhos de passe, cromoterapia e doutrinação. A equipe se reúne em semicírculo e o dirigente faz uma prece. São aplicados os passes em nós mesmos e, logo em seguida, são os frequentadores que recebem os passes. Na próxima etapa são divididas as turmas de cromoterapia e doutrinação. Sou selecionado para fazer doutrinações junto a Bete, uma médium experimentada e treinada. Ela senta na cadeira e eu sento na outra cadeira que está a sua direita. Ela se concentra e não demora muito para que receba um irmão desencarnado. Eu percebo isso pelo sutil movimento do corpo dela prá frente e prá traz. A doutrinação então começa:

D - Seja bem vindo... graças a Deus...
M - Eu estou meio atrapalhado... não sei direito onde que eu vou nem onde que eu fico... a minha roupa já está toda mulambenta, tudo sujo! Não tenho casa, não tem lugar de eu dormir! Que frio que é a rua! Eu gosto mesmo é dos cachorros... que os cachorros me faz compania... os cachorros me esquenta o frio... ah! eu não gosto de gente... gente é ruim!!! Gente não ajuda a gente a hora que a gente precisa... as vezes alguma comida... algum filho de Deus te dá um prato de comida... a maioria vira a cara prá você e nem quer te ver pela frente porque você já é um trapo de gente... e não sei...
D - Irmão...
M - ...porque esse Deus existe... porque que Deus faz essas coisas... eu não entendo muito isso até hoje...
D - Preste atenção agora onde você está. Você está em um lugar diferente. Volte sua atenção para...
M - ...um albergue! Não é um albergue?
D - Não, aqui é um...
M - ...eu tava num albergue hoje... minha cabeça tem piolho! Tem tudo na minha cabeça!
D - Aqui é um centro espírita. Já ouviu falar em centro espírita?
M - Eu já!
D - Então... você está aqui no centro espírita hoje. É uma espécie de hospital... um pronto socorro.
M - ...centro espírita... ouvi falar que era lugar de gente louca... no centro espírita??? Acho que fiquei louco...
D - Você está aqui em tratamento, como pode observar, você está sendo tratado nesse instante por essa equipe...
M - ...as vezes tinha nojo de por a mão em mim...
D - Agora, nesse momento, se você está aqui hoje, você já desencarnou. Faz idéia disso?
M - O que é desencarnou?
D - Você já morreu. Deixou seu corpo físico. Você pode reparar que esse corpo não é seu.
M - Mas eu continuava na sujeira do mesmo jeito... como eu já morri?
D - Terminou seu tempo de encarnado. Você morreu... seu espírito deixou seu corpo e você foi trazido aqui prá lhe ser mostrado que a vida continua. Você pode ver que esse corpo é de uma médium, uma irmã que está tentando te auxiliar e te mostrar isso prá você se acalmar e...
M - ...continua a vida?
D - A vida continua no plano espiritual e...
M - ...mas daquele jeito eu não quero não! Quero morrer, não quero continuar daquele jeito!!!
D - Depois você vai entender o porque de você ter passado por aquilo... pela situação de pobreza que você passou. Não é o momento de lhe dar essa explicação. Está se sentindo melhor?
M - É... não sei por que mas acho que estou...
D - Então, acho que tem uma pessoa lhe chamando, lhe estendendo a mão... pode ver?
M - Posso...
D - Essa pessoa vai lhe dar outras explicações, tá?
M - ...mas é uma menina tão nova!
D - Essa pessoa vai tirar outras dúvidas suas e vai lhe encaminhar, tá bom?
M - Eu vou acreditar em você...
D - Agradeça a Jesus essa oportunidade. Vá em paz, graças a Deus!
M - Graças a Deus!

Enquanto aguardava a próxima doutrinação, fiquei observando os três grupos de cromoterapia a minha frente, que atendia a diversos pacientes, um por vez. Olhei prá cima e lá estava aquele quadro... o enorme quadro na parede... com a gravura de Jesus curando uma criança nos braços da mãe... poderia olhar essa imagem mil vezes e nunca cansaria de apreciá-la... mas logo tive que voltar a minha atenção novamente para a médium, pois outro irmão desencarnado acabara de chegar...

D - Graças a Deus meu irmão, seja bem vindo.
M - Ai!... eu não sei... eu não sei o que estou fazendo... eu não sei direito nem quem sou mais... ai!...
D - Você faz ideia de onde estava antes de chegar aqui?
M - ...lugar feio!!! ...um lugar escuro!!! ...um lugar cheio dum negócio... melado!!! Parecia um... sujo!!! Que coisa esquisita...
D - Mas... faz alguma ideia de como você foi parar nesse lugar?
M - Eu não sei... não sei... tudo confuso na minha cabeça... eu não consigo entender o que se passa mais comigo... eu não sei...
D - Mas, do momento em que você veio prá cá, aconteceu alguma mudança, alguma alteração? Você fez algum pedido ou alguma coisa assim, meu irmão?
M - Eu pedi tanto! ...depois esqueço... só se foi isso! Alguma dessas horas que estou consciente... que eu pedi... deve ser isso... deve ser...
D - Se você reparar, você não está mais naquele local. Você está recebendo auxílio nesse instante. Percebe que já começa a entrar em equilíbrio?
M - ...estou me sentindo um pouco mais... não sei... parece que um pouco mais inteiro... parece que eu estou mais inteiro... é como se faltassem pedaços de mim... agora parece que estou mais eu... estou ficando mais calmo... eu não sei...
D - Acredita em Jesus irmão?
M - Acho que acredito que tem alguma força maior, acho que acredito! Eu cheguei a perder a fé! Eu cheguei a perder a fé! Mas deve ter alguma força maior que me tirou daquele lugar.
D - Então meu irmão, vou te esclarecer rapidamente prá que você possa seguir, tá? Você está amparado... aqui é um centro espírita, que é uma espécie de hospital...
M - ...então eu não vou voltar mais par aquele lugar?
D - Isso depende de você manter sua vibração elevada meu irmão. Com certeza você não voltará lá se não for de tua vontade, não é?
M - Está certo...
D - Tem consciência que desencarnou?
M - Tenho, tenho...
D - Tá certo... está se sentindo melhor?
M - Eu estou, agora eu estou, eu estou melhor... eu acho que vou melhorar mais, eu acho que eu vou, só de ver como esse lugar é limpo, eu acho que vou melhorar mais...
D - Certo; só peço prá você, meu irmão, evitar de dizer "eu acho"... diga "eu vou" melhorar que, com certeza, você vai melhorar e reestabelecer totalmente sua saúde e...
M - ...é que eu não tinha certeza de mais nada, então, por isso que eu disse "eu acho" mas eu acho que agora eu posso ter certeza, , que vou melhorar...
D - Com certeza você está entrando em equilíbrio e está reestabelecendo a sua saúde, tá?
M - Tá bom... obrigado então!
D - Você pode ver que tem uma pessoa lhe chamando?
M - Posso!
D - Ele vai prestar outros esclarecimentos, tá? Então vamos agradecer a Jesus essa oportunidade...
M - Graças a Deus!
D - Vá em paz, graças a Deus!

Fiquei olhando o pessoal da cromoterapia, enquanto aguardava a próxima doutrinação. O dirigente do centro conversava em voz baixa com alguns pacientes e anotava algumas coisas na ficha individual deles. O paciente sentava em um banquinho de madeira envernizada e eram aplicadas diversas combinações de cores em sua aura ou em seus chakras. Foi aplicada uma sequência de cores em uma senhora... primeiro no chakra coronário e depois no chakra umbilical. Parei de olhar a "cromo" e me concentrei na doutrinação pois outro espírito já chegara...

D - Graças a Deus meu irmão.
M - Eu estou cansado! Tem um peso nas minhas costas tão grande... que eu mal consigo andar!!! Eu não entendo porque tanto peso nas minhas costas que quase me arreia no chão!!!
D -Faz idéia do motivo porque você está sentindo esse peso meu irmão?
M - Eu não sei... eu não consigo entender! Eu sempre fui trabalhador. Eu tinha meu comércio... eu trabalhava... direito! Eu não entendo porque esse peso sobre minhas costas!
D - Se recorda onde estava antes de chegar aqui?
M - Num lugar esquisito... feio! Mas sempre esse peso nas minhas costas, no meio de umas pessoas, andando sem parar... procurando ajuda... mas ninguém queria me ajudar... a carregar!
D - Mas como você foi parar nesse lugar?
M - Acho que eu morri... e fui prá lá! Não sei... eu pensei que fosse prá outro lugar!
D - Mas você acreditava em que meu irmão, enquanto você estava vivo?
M - Eu? Acreditava... em Allah! Allah!
D - Mas você nunca parou prá pensar se nós continuamos vivos, se nós não...
M - ...sabia que a vida é eterna... sabia... mas não pensei... queria que ele me mostrasse... o que eu fiz de errado, ?
D - Quem?
M - Allah!
D - Você sabe que local é esse meu irmão? Faz idéia?
M - Não.
D - Então vou lhe explicar, tá bom?
M - Que lugar é esse?
D - Aqui é um centro espírita. Já ouviu falar em...
M - ...não é um templo... não é um templo... porque um templo é diferente. O templo que eu frequentava era diferente.
D - Vou tentar te explicar de maneira mais compreensível: aquele que você chama de Allah, tem outras pessoas que chamam de Jeová, outras pessoas chamam de Deus... cada pessoa dá um nome, cada religião dá um nome, mas na verdade só existe um Deus, só existe um Allah, só existe um Jeová, que ilumina todas crenças e esse templo aqui, esse centro espírita, é uma religião, uma crença que está iluminada por Deus e você está aqui hoje em pleno tratamento... acredito que você deva estar se sentindo melhor. Está mais aliviado?
M - É verdade...
D - E você vai compreender outras coisas que vão ser explicadas pois esse não é o momento de...
M - ...acho que agora eu estou entendendo... o porque do peso que tinha sobre as minhas costas...
D - É, meu irmão?
M - Ele está me mostrando!!! Acho que Allah está me mostrando!!!
D - Está conseguindo ver?
M - Sabe o que é? Diz que eu roubei no peso das coisas que eu vendi!!! Eu pesei menos prás pessoas e cobrei o preço a mais... tudo isso que pesou nas minhas costas... por isso que eu fiquei tantos anos... carregando o peso daquilo tudo que eu tirei!!!
D - Mas mesmo tendo essa crença em Allah, meu irmão? Você cometeu esse desvio?
M - Eu fiz!!! Eu fiz!!!
D - Tá certo... mas você sabe que Deus não desampara ninguém...
M - ...acho que não, né?
D - No momento você está em pleno tratamento. Você está recomeçando uma nova etapa da sua vida. Deixe essas coisas prá traz, vamos olhar prá frente porque, se aqui estamos juntos, não é meu irmão, é porque...
M - ...eu vou tentar...
D - ...todos nós já erramos na vida e estamos tentando trilhar um novo caminho...
M - ...eu vou tentar...
D - Vamos seguir com essa pessoa que está lhe chamando?
M - Eu vou sim! Eu vou!
D - Então, agradeça a Deus a oportunidade...
M - ...graças a Deus!
D - Vá em paz, graças a Deus!

Fiquei então em prece a aguardar a próxima doutrinação, quando o dirigente do centro tocou no meu ombro e deu um sinal que a próxima doutrinação ele mesmo faria. Lhe ofereci a cadeira mas ele preferiu doutrinar em pé mesmo. Fiquei olhando atentamente tudo prá meu aprendizado. Ele se concentrou como se buscasse algo ou algum lugar em sua própria mente. Logo a médium deu sinal que recebeu um espírito. Eu acompanhei com a curiosidade de um aprendiz, tentando imaginar o drama por traz daquela estória que se desenrolou diante de mim:

D - Seja bem vindo irmão.
M - Não sei se sou bem vindo aqui... você sabe...
D - Sempre será bem vindo. Seria melhor bem vindo se estivesse aqui nesse momento dando a boa notícia que realmente aceitou nosso convite, entendeu? Aí seria então muito mais bem vindo. Mas por enquanto, infelizmente, estamos aqui ainda precisando do diálogo prá ver se você aceita que até o momento você insiste em permanecer.
M - Por que o senhor não me deixa na minha ignorância até quando eu achar que devo?
D - Você conversou com nosso irmão desencarnado?
M - É... eu conversei...
D - E o que ele disse a você?
M - Tudo que você já me disse: que eu preciso confiar... que a vida continua... que eu já vi... que um dia eu vou ter a oportunidade de voltar... mas quem me garante que eu vou voltar, você entendeu, e vou... assim... no mesmo lugar?
D - Viu meu irmão, é só você pensar que...
M - ...eu posso voltar então lá no outro mundo não sei onde...
D - Não... você tem que entender que a ligação entre vocês existe, tanto é que você está aqui. Então, essa ligação, mesmo com afastamento, há de se manter. Mediante essa ligação ora interrompida, se você fizer realmente por merecer, agir de acordo com nossas orientações, você vai ter oportunidade, você tem que confiar nisso. Tem que confiar que isso é tão certo quanto é certa a existência eterna do espírito, como você está aqui a conversar comigo. Eu creio que você, no passado, também duvidou que ia sobreviver espiritualmente, não é verdade? E hoje está aqui a conversar comigo como um espírito desencarnado... você está vendo como são as coisas? Então, se também, no passado, eu pregasse isso prá você, que você ia sobreviver, você ia duvidar.
M - É...
D - Então você tem que confiar. A lei existe, a união existe e há de permanecer. É só você ter a devida paciência e aguardar o momento oportuno. Você ainda não entendeu que tem provas e que está se prejudicando?
M - Eu?
D - Sim, está se prejudicando...
M - Eu não sinto nada... eu não sinto dor... eu não sinto nada...
D - Você está retardando esse novo encontro. Já lhe expliquei que não adianta: no plano espiritual e no físico não há união. São mundos diferentes. Por que insistir? Vamos dar tempo ao tempo. Vamos aguardar a nova vida em conjunto...
M - ...aí quando ela morrer... aí...
D - ...vocês poderiam até se rever, claro, como não? Para programar a nova existência física. Não deram esta informação prá você aí no plano espiritual?
M - É... mas é que é tanta coisa que deixa... que acontece assim de errado que é como se você mergulhasse no escuro e depois não achasse a porta prá sair.
D - É, mas você, desta feita, está achando a porta sempre pois nós estamos mostrando. Nós estamos mostrando a saída, dentro da lógica. Basta você querer. Você não pode alegar ignorância, não pode alegar que está perdido porque nós estamos lhe dando todas as condições, só não estamos obrigando, porque não é lógico. Estamos apenas instruindo para que se opere por livre e espontânea vontade.
M - Então... eu saio... de coração...
D - Não tenha dúvida que a lei divina, já estabelecida, há de unir também, um dia, de acordo com o novo propósito que você deseja...
M - ...e eu vou ter alguma coisa prá que eu me ocupe?
D - Sim, a vida continua! Não tenha dúvida, você não vai ficar desamparado na espiritualidade. Pelo contrário, se você falar hoje, nesse momento, com esse nosso irmão que realmente aceita ir com ele, você vai ter grandes surpresas. Você vai ter a moradia, os afazeres que a vida espiritual tem a oferecer, que são até bem mais interessantes do que aqueles aqui na matéria. Pode ter certeza. Oras, você podia fazer, pelo menos, essa experiência; viver esse novo esquema de vida meu irmão. Se você também não tenta como é que vai ter certeza que vai se arrepender?
M - Está certo...
D - Você tem que dar uma oportunidade a si mesmo. Pelo menos tentar e conhecer novos horizontes. Caso você mais tarde se arrependa e queira voltar, você nunca será preso, amarrado, obrigado a...
M - ...eu vou com ele...
D - Nós somos orientadores. Não obrigamos ninguém a fazer nada.
M - Vou conhecer então esse lugar que ele está falando.
D - Mais uma vez eu fico aqui na esperança que realmente...
M - ...ele me mostrou um lugar que eu vou poder ficar, fazer o que eu quiser fazer.
D - Sim, a vida continua, não é? É tão verdadeiro que aí você está com esse amigo, que mais uma vez relembra esse fato importante.
M - Então eu vou com ele hoje.
D - Como sempre, fico aqui torcendo prá que realmente isso aconteça e você encontre a sua paz...
M - Eu vou...
D - Graças a Deus meu irmão.
M - Graças a Deus! Graças a Deus!
D - Vá em paz.

O dirigente, então, olhou para o relógio de ponteiros que estava na parede e reparou que já era hora de encerrar o trabalho. Disse com voz suave para que os médiuns não mais se concentrassem. Foi feita uma linda prece de encerramento. Foi pedido, também, que Jesus abençoasse a todos para que pudessem seguir em paz para seus lares. Depois foi acesa a luz mais forte e nos abraçamos e nos despedimos, aguardando a próxima semana para que pudéssemos continuar nossos incessantes e abençoados trabalhos.

=)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Vamos Ajudar Nossos Amigos de Patas...

tuuu.... tuuu... (som de chamada telefônica...)

- Oi Cidinha!
- Oi Cláudio, tudo bem ?
- Tudo ok!
- Você leu meu email? Vai vir aqui no domingo?
- Vou sim Cidinha!
- Tudo bem! Te aguardo aqui as 9 horas pois meu dia começa cedo. As 6:30 já começo a cuidar dos meus "filhos"...

A Cidinha e o Ronaldo fazem um trabalho muito bonito, que eu acompanho de perto a muitos anos. Eles, junto com uma rede de colaboradores, cuidam de 63 cães em um sítio no Conjunto Santo Ângelo e, também, 40 cães e 23 gatos na sua própria casa. Tudo muito limpo e organizado... a custa de muito trabalho e dedicação.

- Entra Cláudio, fica a vontade!
- Conte uma estória interessante sobre esses gatos Cidinha... me fale sobre essa gato aqui, que não enxerga.

- O nome dele é Sol. Em fevereiro de 2003, eu e o Ronaldo fomos passear em Porto Seguro. Ficamos hospedados em um hotel. Logo reparamos que um filhote de gato perambulava por ali, principalmente em volta da piscina. Fiquei curiosa e peguei o gato no colo mas logo notei que havia algo errado. Havia uma secreção... um pus nos dois olhos do gato. Comprei um medicamento prá limpeza e tentei remover a secreção com algodão e tive uma surpresa: não haviam olhos... as órbitas oculares estavam vazias. Conversei com o dono do hotel e ele me disse que já sabia sobre esse gato. Ele teve dó de "sumir" com esse gato pois ele era cego. Ele disse, também, que o gato já havia caído duas vezes na piscina e que se isso acontecesse a noite, provavelmente ele se afogaria pois não haveria ninguém para o resgatar. Eu decidi o levar prá São Paulo mas, para que eu o pudesse levar no avião, haveria de ser vacinado. A veterinária local concordou em vaciná-lo mas ela disse que ele só poderia ser levado daqui a 30 dias, que era o prazo prá verificar se alguma doença iria se manifestar. Mas eu já estava de malas prontas prá voltar e não podia esperar mais 30 dias! A médica foi irredutível... disse que tinha que seguir o protocolo, mesmo sabendo que fazendo isso estaria assinando a sentença de morte do gato. Então eu tirei o gatinho da caixa e mostrei para a veterinária. A visão do gato amoleceu o coração da doutora que, além de vacinar o gato, fez um atestado de vacinação retroativo a 30 dias, para que ele pudesse embarcar junto comigo e com o Ronaldo no avião. Ele recebe muito carinho e auxílio dos outros gatos e hoje está em tratamento renal, pois possui um rim atrofiado.
- E aquele gato que está naquela prancha tomando sol Cidinha?
- Ah, aquele é o Pimpolho... em uma noite de 1994, eu estava passando com meu carro ao lado da Praça das Bandeiras, bem no centro de Mogi. Tive a impressão de ouvir um miado, parei o carro e fui na direção do som. Encontrei esse gato, ainda filhote, muito magro e fraco. Ele se movimentava com dificuldade, então o levei no veterinário para ver o que acontecia. Ele descobriu que o "Pimpo" estava com a pata dianteira quebrada e que a pele da coxa dele estava toda perfurada, como se alguém tivesse espetado o gato diversas vezes. Isso fez com que ficasse ar preso em baixo da pele criando assim uma grande infecção. Foi muito engraçado o tratamento desse gato pois ele ficou todo enfaixado parecendo uma múmia...- E essa cachorrinha simpática aqui Cidinha... qual é a estória dela?
- Essa é a Boneca. Um dia eu estava passando ao lado de um grande terreno vazio, quando reparei que um homem acabara de chutar essa cachorra. Sem perda de tempo eu fui na direção do homem, exigir uma explicação pela sua brutalidade mas fiquei sem palavras quando reparei que ela estava dando a luz a vários filhotes. Chamei a atenção do homem e o ameacei denunciar se ele ousasse tocar na cachorrinha novamente. Ali no terreno mesmo, junto a outras pessoas que estavam próximas, nós improvisamos uma casinha com caixa de papelão para que ela pudesse dar a luz aos filhotes com o mínimo de proteção contra o frio da noite. Foram 8 filhotes dos quais 3 já foram doados. Todos nasceram com muitos vermes mas nós os tratamos. Na época não havia mais espaço prá nenhum animal aqui em casa. Então eu improvisei uma "casinha" na parte de baixo da churrasqueira com uma adaptação que foi feita pelo pedreiro.
- E esse gato brincando com esse coelho Cidinha???
- Ah, essa é a Botinha e o Branquinho...
- Botinha?
- É por causa das patas dela... repare que são quatro patas da mesma cor, como se fossem quatro botas brancas...
- É mesmo!
- A Botinha foi o Ronaldo que viu, uma vez que ele foi levar o Pastor prá passear. Ele me disse que viu um gato no ponto de ônibus, em baixo do banco, e me pediu prá ir lá vê-lo. Na correria da Corretora de Seguros que eu trabalho, acabei esquecendo de ir ver o gato. Por incrível que pareça, no dia seguinte eu fui lá no ponto e ele estava no mesmo lugar! Estava muito magro e abatido. Fez amizade com o coelho Branquinho, que eu achei atravessando uma rua lá no Santo Ângelo. Formam um bela dupla!
Foi assim a minha visita a casa da
Cidinha e do Ronaldo e ao LCA.

Muito brigado pelo carinho, a atenção,
o bolo e o cafezinho...

Se alguém se interessar em ajudar a ONG
"Lar dos Cães Abandonados",
deposite qualquer quantia nessa conta:

Banco Bradesco: 237

Agência: 2770

Conta Corrente: 14800-8

Mais informações podem ser obtidas diretamente com a Cidinha:

lardoscaesabandonados@yahoo.com.br

Nossos amiguinhos agradecem...

=)

domingo, 13 de novembro de 2011

Ma Yuan - Tolstoi


"Ekzistas tiuj, kiuj pasas tra la arbareto
kaj nur vidas brullignon por fajraĵo."

"Há quem passe pelo bosque
e só veja lenha para a fogueira."

"Hay quienes pasan por el bosque
y sólo ven leña para el fuego."

"Some pass through the woods
and only see the wood for the fire."

(Tolstoi)

=)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Câmera na Mochila

No meu Orkut eu tenho um álbum de fotos que chama "Seção Câmera na Mochila". Não sou fotógrafo profissional mas gosto de fotografar de vez em quando. Cada imagem que eu seleciono pelo visor de minha câmera tem uma estória... separei aqui as 4 melhores estórias. Clique na foto prá vê-la ampliada. =)

Eu estava voltando de Birigüi, interior de São Paulo, onde havia passado uma experiência nova e fascinante. Despedidas, abraços, conta de hotel paga e coloquei o pé na estrada em direção a Mogi das Cruzes... afinal eram 550 km de viagem. Programei o GPS e procurei o posto de gasolina mais próximo. O tempo começou a mudar e fiquei preocupado. Estava quente e abafado e de repente começou a ventar e esfriar... chuva fina. Paguei pelo álcool e saí apreensivo, com receio de enfrentar uma tempestade quando entrasse na rodovia Marechal Rondon. Logo que entrei na rodovia aconteceu um fato curioso. O céu abriu rapidamente à minha esquerda e revelou um lindo e forte sol. Nesse instante lembrei da recomentação da minha dermatologista, que trata uma mancha que eu tenho no rosto. Então parei o carro no acostamento, peguei o bloqueador solar na minha mochila e passei um pouco no rosto. Quando fui guardar o bloqueador, olhei furtivamente pela janela direita do meu carro... meu Deus... então reparei que estava estacionado ao lado daquela árvore incrível, que mais parecia uma sentinela eterna da humanidade... humanidade essa que passava sempre apressada ao seu lado. O tempo fechou de novo e criou uma cena mais inexplicável ainda, com o vento a balançar levemente aqueles galhos sem folhas e com aquelas nuvens de chumbo que passavam velozes no firmamento que estava de fundo a ela. Abaixei o vidro direito do carro e tirei duas fotos. Tive ímpetos de descer do carro e ver a árvore mais de perto... mas a viagem era longa... então parti. Depois disso tive sete horas de viagem até minha cidade... tempo suficiente prá pensar e avaliar tudo que eu havia passado naqueles dias em Birigüi. Eu perguntei bastante prá Deus por que Ele me encaminhou para aquela bela e pacata cidade... só Ele o sabe... =)

Obrigado por tudo Suelen...
Só quem sonha entende quem tem sonhos...

Força sempre amiga !!!

Péssimo dia no trabalho. Sei, sou uma pessoa equilibrada, mas as vezes a pressão por produção é tão grande que, aquele dia, me sentia esmagado. Não havia almoçado direito... tive que comer correndo porque havia uma máquina a ser religada e isso dependia de mim. Uma série de erros de outras pessoas culminou nisso mas não vem ao caso agora... o fato é que eu só queria ir embora prá casa, depois de um dia difícil. "Venci", eu pensei pois, a despeito de tudo que havia acontecido, consegui ser diplomático com todos e não faltei o respeito com ninguém. Lógico, agradeci a Deus por isso, enquanto me dirigia à portaria da empresa, depois de haver tomado banho e me trocado. Quando fui pegar o ônibus fretado da empresa ele havia acabado de sair... "fomos surpreendidos mais uma vez", disse prá mim mesmo... Que droga, estava pensando em tirar um cochilo naquele banco confortável... mas agora teria que me contentar com aquele banco "maravilhoso" do ônibus de linha. Quando cheguei no ponto de ônibus vi que o Sol estava se pondo rápido. Peguei a câmera prá tirar uma foto pois o céu estava colorido de vermelhos, amarelos e laranjas indescritíveis ! Quando tirei essa foto eu pensei que Deus realmente escreve certo por linhas tortas pois, se eu tivesse pegado o ônibus, eu teria perdido esse espetáculo colorido e fascinante ! =)

Há dois anos, fui contratado prá trabalhar nessa empresa que trabalho hoje. Depois de um mês trabalhando, aconteceu um inundação na divisão de Caieiras, interior de São Paulo. Foi selecionado um grupo de funcionários que iria fazer a limpeza da empresa, depois que o nível de água baixasse. Foi uma experiência toda nova prá mim... essa de pegar máquinas e equipamentos que ficaram submersos em água e lama e os colocar prá funcionar novamente. Enquanto eu trabalhava junto de meus amigos em dificuldades indescritíveis, eu ficava pensando "e aquelas inundações que invadem vilarejos e cidades... como esse pessoal consegue suportar ?" Essa foto eu tirei no dia que cheguei em Caieiras. Nossa equipe chegou e um funcionário de lá nos guiou por um caminho alternativo, mais rápido prá chegar no escritório da empresa. Esse caminho passava no meio da parte velha e inativa da empresa, um local um tanto bizarro. Tirei várias fotos nesse dia. Essa foto eu preferi colocar "deitada" porque dá um ar...como eu diria... surreal talvez. =)
A semana passada fui na chácara ver a Chiquinha (se você quer conhecer essa estória, clique no nome dela). Há quatro meses o pessoal que cuida dela não dava notícias. Fiquei preocupado e resolvi fazer uma visita. Aproveitei e levei um pacotão de ração do sabor preferido dela... peixe. A casa é simples, de alvenaria. Antes era um barraco de maderite. Fui recebido com o carinho e as boas vindas das pessoas simples... café fresco, bolo de fubá e bolachas de rosquinha. Levei muitas bolachas "passatempo" prá criançada... elas ficaram super contentes. Perguntei da Chiquinha. "Está tomando banho de sol em cima daquelas telhas !" me disseram. Eu a chamei e ela me reconheceu com aquele miado de choro, como quem diz que está com saudades. Correu na minha direção e começou a se esfregar em mim. Fiquei com vontade de a pegar no colo mas não o fiz. Sei que ela não gosta. A única pessoa que ela "deixa" a pegar no colo é a dona da chácara. Ela ronronava e se esfregava em mim... passei minha mão na cabeça dela e admirei seu pêlo macio e brilhante. Prá uma gata de 10 anos ela está uma verdadeira "gata". Uma das moças que cuida dela me mostrou algumas fotos que haviam no seu celular. "Olha, a Chiquinha gosta de dormir dentro da minha mochila ! É o lugar que ela mais gosta de ficar !" Gostei muito das fotos e pedi cópias prá que eu colocasse no meu computador. Sei, essa não fui eu que tirei mas, nesse caso, o mais importante é a estória por traz da foto.

=)

domingo, 19 de junho de 2011

Kagaya


"Turnu vian vizaĝon ĉiam direkte al la suno
kaj tiam la ombroj restos malantaŭe."

"Always turn your face to the sun and then
the shadows stays behind you."

"Volta teu rosto sempre na direção do sol
e então as sombras ficarão para trás."

"¡Da la cara siempre hacia el sol
y luego las sombras dejado atrás."

Sabedoria Oriental

=)

sábado, 23 de abril de 2011

Astro Boy


"Não chore pelas coisas terem terminado; sorria por elas terem existido."

"No llores por las cosas termino, sonrie por que eran existido."

"Don´t cry for the finished things; smile for them to have existed."

"Ne ploru pro tio ke la aferoj finiĝis; ridetu pro tio ke ili ekzistis."


("Astro Boy" - 1952 / Obra prima de Ozamu Tezuka)


sábado, 2 de abril de 2011

Hokusai e Gandhi


"Sejam seus pensamentos positivos, pois eles se transformarão em palavras.
Sejam suas palavras positivas, pois elas se transformarão em ações.
Sejam suas ações positivas, pois elas se transformarão em valores.
Sejam seus valores positivos, pois eles determinarão seu destino."

"Si es tus pensamientos positivos, porque se convierten en palabras.
Sus palabras son positivas, porque se convertirán en acciones.
Sus acciones son positivas, porque se se convertirá en valore.
Sus valore son positivos, porque se determinar su destino."

"Viaj pensoj estu pozitivaj, ĉar ili transformiĝos en parolojn.
Viaj paroloj estu pozitivaj, ĉar ili transformiĝos en agojn.
Viaj agoj estu pozitivaj, ĉar ili transformiĝos en valorojn.
Viaj valoroj estu pozitivaj, ĉar ili determinos vian destinon."

"Be your thoughts positive, because they will turn into words.
Be your words positive, because they will turn into actions.
Be your actions positive, because they will turn into values.
Be your values positive, because they will determine your fate".


Imagem: Katsushika Hokusai - 1760/1849
Texto: Gandhi

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Inuyasha


"Ama sempre. E quando estiveres a ponto
de descrer do amor, lembra-te do Cristo."

"Loves always. And when you just don´t believe
in the power of love, remember Christ."

"El amor siempre. Y cuando esta a punto
de no creer en el amor, recuerda a Cristo."

"Amu ĉiam. Kaj kiam vi venos al tia grado ke vi malkredos
je la povo de amo, memoru pri la Kristo."

Emmanuel

=)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Carpe Diem

Ele estava trabalhando. Quem o olhasse por fora não poderia imaginar o tumulto que ocorria em seu interior. Ele decidiu, a despeito da dor, assim mesmo honrar todas suas obrigações profissionais. Já estava quase na hora de ir embora mesmo, ele pensou. Em determinado momento, a dor foi tão intensa que ele pediu licença aos colegas e se escondeu no porão da empresa, numa sala onde ninguém o poderia encontrar. No caminho, pegou um pedaço de papelão. Entrou na sala e se trancou. Colocou o papelão no chão, ajoelhou sobre o mesmo e começou a dizer mentalmente uma prece... não uma prece decorada, mas aquela prece que vem direto do coração, como fruto do desespero de um ser. Ele abria seu coração ao Criador pelas suas palavras articuladas pela mente. Todo desespero, solidão e decepção estavam impressos em cada vocábulo. Ajuda, ajuda... ele pedia mentalmente... força para superar aquele desafio. As lágrimas caíam com tanta intensidade que toda sua face estava molhada... gotas se encontrando no queixo e caindo... caindo sem parar... Ah, se ele pudesse ver seu rosto naquele momento ! Era a materialização do mais puro desespero. Me envie um emissário da luz, meu Deus, que possa me ajudar, ele dizia mentalmente. Durante algum tempo nada ocorreu. Alguns instantes depois, uma pequena nuvem começou a se formar diante dele. Ele assustou-se pois viu a nuvem surgir enquanto ainda estava com os olhos fechados... e ele pode vê-la mesmo assim. Esse choque fez cessarem as lágrimas. Essa nuvem rapidamente tomou forma de uma pessoa... uma mulher. Ela vestia uma túnica branca, com reflexos azulados. Cabelos cor de mel emolduravam um rosto perfeito, com olhos castanhos confiáveis e amigáveis. Leve sorriso estampado no rosto. Sem dizer uma palavra, ela estendeu a mão direita na direção da cabeça dele e o tocou de leve na testa com o dedo indicador. Nesse instante seu espirito se separou do corpo que estava ajoelhado. Ela fez um gesto com a mão e o corpo obedeceu automaticamente, deitando cuidadosamente no papelão. Ele, em espirito, ficou diante dela sem saber o que dizer. Ela tomou a iniciativa:

- Pense em um lugar bom prá conversar !

Imediatamente ele lembrou daquela praia... na ilha, em cima daquela enorme rocha, onde tinha uma visão privilegiada do mar. Foi só pensar e lá apareceram os dois, na velocidade do pensamento. Ficaram sentados na rocha contemplando o mar e as estrelas que começavam a aparecer. Silêncio. Não há como olhar o mar sem pensar em um Criador. Finalmente ele articulou a palavra:

- Qual é seu nome ?

- Pode me chamar de... Cristina.

- Você já sabe tudo que se passa comigo, né Cristina ?

- Eu sei meu amigo, mas é importante que você fale.

- Eu gostaria de saber... Cristina... porque é tão difícil um homem e uma mulher ficarem juntos. Porque tantos namoros e casamentos acabam por coisas tão fúteis ? Porque tantas traições, mal entendidos, intolerância, desamor ?

De onde eles estavam, podiam ouvir as ondas do mar quebrando na praia... uma brisa cálida e revigorante soprava calmamente. Então a emissária da luz olhou para ele com infinito carinho e amizade, antes de responder:

- Vivemos em um planeta ainda primário, meu amigo ! As pessoas ainda são muito atrasadas sobre esse aspecto intitulado "amor". Há muita confusão a respeito de sexo e amor. Aos poucos as pessoas começarão a entender que o sexo é um complemento do amor, não o contrário, como a maioria acha. O sexo, a medida que os séculos avançarem, também está fadado a evoluir, segundo as diretrizes da marcha evolutiva de todas as coisas, conforme o desejo do Criador Incriado. O sexo equilibrado, sem os excessos cometidos pela maioria, é um presente que Deus dá aos humanos. Uma fonte de prazer e mecanismo de confecção de novos corpos para as gerações vindouras...

Ficaram em silêncio novamente. Naquela cálida noite sem lua, as estrelas brilhavam com mais intensidade. Um farol de um navio lampejava no horizonte. Um grupo de jovens brincava de bola sob a luz de holofotes de mercurio, que iluminavam o campo improvisado na areia cinzenta. Ele quebrou o silêncio:

- Sabe Cristina, desde criança, esse assunto sobre sexo me intriga. Gostaria de saber a origem dessa fascinação...

Ele olhou para a emissária da luz mas notou, surpreso, que ela já não mostrava a mesma serenidade de antes. Lhe pareceu que ela não estava preparada prá responder aquela questão. Seu ingênuo comentário fez Cristina retroceder no tempo... na origem daquele problema... Ela olhou para o céu como a pedir inspiração. Ficou em pé e começou a fazer um prece silenciosa. Um halo lentamente se formou em volta de sua cabeça. Ela estendeu as delicadas mãos, como se fosse redeber alguma coisa. Lentamente se materializou um pergaminho sobre suas mãos, que ela pegou com cuidado. Abriu os olhos e entregou o pergaminho para ele. Ao desenrolar o pergaminho, ele notou que sobre o papel estava escrito algo com ideogramas egípcios. Eles eram familiares e estranhos ao mesmo tempo. Cristina começou a traduzir prá ele:

"Eu estava com minha família, irmãos...
Andávamos entre vendedores, mercadores...
Eu era uma criança, ou quase criança...
Os odores e as novidades, as cores, os gritos
enfim, a agitação toda me fascinava...
Quando eu te vi...
me deu uma espécie de febre
e o coração ficou descompassado;
era como se algo trincasse dentro de mim.
Será que você sentiu também,
como se um raio cortasse o ar
quando nos olhamos ?
Agora não tenho paz, cadê minha paz ?
Cadê minha infância ?
Onde estão os passeios lúdicos ?
Não me alimento e não durmo bem
a sete dias e sete noites.
Será que isso é o que chamam de amor ?
Mas ele me faz sofrer tanto
e não é tão bonito quanto me disseram.
Ele me sufoca, ele me persegue,
até nos sonhos !
Será isso amor ou sofrimento ?

Enquanto ela lia, diversas imagens em sequência desordenada invadiam a mente dele. Ele viu um machado que decaptava dezenas de mãos, que caiam em um cesto... viu moças sendo atiradas aos crocodilos... uma delas o amaldiçoou por toda a eternidade, antes de ser engolida pelo feroz réptil... ele viu uma rosa... uma rosa de um vermelho tão intenso que ele nunca vira antes... um perfume inexplicável evolava daquela flôr... na visão, ele entregava a rosa para uma linda egipcia... mas aquele olhar... aquela maldição... o perseguiu por séculos... No fim do texto, as imagens cessaram finalmente. Cristina esclareceu:

- Fui eu que escrevi essas palavras, a primeira vez que te vi aqui na Terra. Isso foi há 2500 anos, no egito. Você me conquistou com uma rosa... mas não tinha a intenção do enamorado... tinha o intento do chacal diante da presa... eu fui a primeira desvirtuada de muitas... a última vez que nos encontramos na carne foi na China, onde os primeiros resquícios de remorso o impulsionaram na diração da regeneração...

Ele lembrou dos sonhos... sim... dos malditos sonhos que o perseguiam... porque eles desapareceram ? Ela captou a pergunta inarticulada pela boca:

- Não existe acaso ! Se os sonhos cessaram, você já está na iminência de começar a entender o sentido do amor e a missão de dois seres que se unem por amor. Não chore mais pois o melhor ainda está por vir !

Nesse momento ela olhou para o céu, como se tivesse recebido algum tipo de chamado, e disse:

- Meu tempo acabou meu amigo. Tenho que ir !

Eu lhe entreguei o pergaminho, que ela guardou com carinho em uma delicada fita que envolvia sua túnica a altura da cintura. Antes dela desaparecer, ela disse, de olhos úmidos:

- Amo-te !!!

Ele acordou naquele porão empoeirado e duas coisas o deixaram surpreso: só haviam passado alguns minutos no seu relógio e a tristeza havia desaparecido por completo. Saindo do local, tomou banho, se trocou e foi pegar o ônibus. Resolveu passar na cidade prá tomar uma vitamina e pensar na visão, que ele guardou na mente de maneira integral... Enquanto ele tomava a vitamina na lanchonete, notou que uma mulher oferecia rosas para os fregueses que estavam no estabelecimento comprarem. A mulher decidiu ir embora mas, no momento que estava para transpor o limiar da lanchonete com a rua, deu meia volta e se dirigiu a mesa dele. Sem dizer uma única palavra, ela pegou uma rosa vermelha, entregou a ele e saiu rapidamente, sem mesmo dar chance prá ele ter alguma reação. Ele olhou a linda rosa. Pegou com cuidado e a cheirou. A fragrância era a mesma daquela rosa vermelha da visão ! Ele ficou emocionado... alegre... revigorado... Pagou a vitamina e saiu mas, depois de dar alguns passos, parou pois uma seqüencia de palavras surgiu em sua mente, como se algum ser invisível tivesse derramado um cântaro de idéias direto na sua mente. Ele voltou na loja e pediu caneta e papel:

Amor

"O nascer do Sol
é uma metáfora do Criador
que simboliza a esperança
de dias e experiências melhores.

O brilho dos astros
é um símbolo
da luz vencendo a obscuridade,
pois, por mais que haja escuridão
basta uma única estrela
para sobressair diante das trevas.

As partículas sub-atômicas
e as super-galáxias
são atestados
ainda incompreensíveis

que ainda estamos muito longe
de compreender o mundo...
de compreender a vida...

Todos seres do globo
são provas vivas de que existe
uma inteligência maior
que preside e acompanha
desde o cair de uma folha
até a criação
de novos sistemas planetários.

O amor...
...e o Amor ?

O Amor
é o maior
de todos os símbolos
de nossa evolução."

Ele agradeceu a moça do caixa por emprestar a caneta e o papel. Dobrou o rascunho e colocou no bolso. Quando pisou na calçada, disse sorrindo, prá si mesmo:

- Carpe Diem !!!

=)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Signo de Câncer

É difícil ter nascido sob o signo de câncer. O canceriano ama as praias, ama o Sol, mas o calor lhe embota os pensamentos e o deixa indisposto, com o raciocínio lento. Ele sofre um pouco no verão, já que é um ser regido pela Lua e por seu brilho plácido e prateado. Nas noites frescas de lua cheia, o canceriano tem seus êxtases de inspiração, amor e raciocínios. Ele torna-se um ser ágil e prestativo nesses períodos, que geralmente coincidem com grandes explosões de criatividade nas áreas da arte, música e pintura, de famosos cancerianos que ficaram na história. O canceriano ama a arte e a cultura. A experiência mostra que existe um signo que é incompatível com câncer: Leão. Num hipotético encontro entre um canceriano e uma leonina, ele vai ao encontro da moça com uma caixa de finos bombons, que ele só recorda de ver a data de validade no último instante. Quando o casal se encontra, eles travam o seguinte diálogo:

- Isto é prá você ! - ele diz

- Porque você está me dando isso ? - ela responde sem mesmo descruzar os braços

Com raras excessões, a convivência entre esses dois signos é difícil.

Um signo que poderia interagir bem com câncer é gêmeos. Num eventual encontro entre esses dois seres, lá está novamente nosso canceriano com a mesma caixa de bombons. Ele encontra com a geminiana. Ela fica fascinada com o presente e diz:

- Vamos até meu carro ?

Eles vão para o carro dela e começam a conversar, ou melhor, ela começa a falar e falar. Ela vai abrindo e comendo os bombons, que divide igualmente com o rapaz que está sentado no banco do passageiro. Ela guarda todas as embalagens para colar em seu diário e, nesse devaneio, deixa um pouco de lado o rapaz. Ela fica pensando em tudo que vai escrever em seu diário e onde vai colar as embalagens dos bombons. Nesse ponto ele já está entediado.

Todas as estatísticas demonstram que o encontro perfeito pode ocorrer entre câncer e escorpião. Nesse contato bonito e inesquecível, o canceriano iria levar para a moça de escorpião uma única rosa, que os ligaria para sempre. Esse amor passa a ser tão grande, que as pessoas ainda não podem compreender. Somente Deus poderia entender.

Mas os nascidos em câncer não sofrem somente com o calor excessivo do Sol. Eles sentem muitas coisas que não compreendem. É comum o canceriano sentir vontade de ligar para alguém e essa pessoa responde:

- Putz ! Eu estava precisando falar com você urgente !

Em determinados momentos, o canceriano sente uma tristeza tão grande que fica como que indefeso. Geralmente comete besteiras nessa fase, se não se socorre com alguém de confiança ou com uma prece sincera, para o reequilibrio das energias. É uma força negativa que vem do nada e parece que vai dobrar o canceriano no meio. Se ele não tiver o pulso firme, pode ser contagiado totalmente por esse sentimento de impotência... mas, curiosamente, se ele domina essas forças, elas como que retornam sublimadas a ele e o inundam de alegria e contentamento !

Há alguns anos atrás, uma amiga me enviou uma mensagem com o seguinte título: "A Missão de cada Signo". No email, que é um dos mais lindos que já recebi, Deus chama 12 lindas crianças diante dele. Depois chama uma a uma e escolhe uma tarefa para elas... uma missão. Em dado momento, Ele chama a criança de câncer:

" - A ti câncer, atribuo a tarefa de ensinar aos homens
a emoção. Minha idéia é que provoques neles risos e lágrimas,
de modo que tudo o que eles vejam e sintam desenvolva
uma plenitude desde dentro; para isso, eu te dou
o dom da família, para que tua plenitude possa se multiplicar."

E câncer voltou ao seu lugar.

Principal característica: Sentimento
Qualidade: Empatia, Sensibilidade
Defeito: Possessividade, Apego ao Passado, Flutuabilidade

É difícil ser do signo de câncer... mas se Deus me deu essa missão, vou lutar com todo meu amor e sabedoria para cumpri-la.

Obs.: Essa postagem é dedicada a mais linda moça de escorpião que já conheci ! =)

domingo, 30 de janeiro de 2011

Ilusões


"Eis um teste para saber
se você terminou sua missão na Terra:
se você está vivo, não terminou."

"Aquí está una prueba
de que haya completado su misión en tierra:
Si estas vivo, no terminó."

"Here´s a test to know
if your mission on Earth is finished:
If you are alive, it doesn´t."

"Jen testo por ke vi sciu
ĉu vi finis vian mision sur Tero:
se vi ankoraŭ­ vivas, vi ne finis."

=)


Texto - Richard Bach (do livro "Ilusões")
Imagem - John Willian Waterhouse

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

André Luiz e Debret

"One existence - one act.
One body - one vest.
One century - one day.
One service - one experience.
One triumph - one aquisition.
One death - a renewal breath."

"Uma existência - um ato.
Um corpo - uma veste.
Um século - um dia.
Um serviço - uma experiência.
Um triunfo - uma aquisição.
Uma morte - um sopro renovador."

"Unu ekzisto - unu ago.
Unu korpo - unu vestaĵo.
Unu jarcento - unu tago.
Unu servo - unu sperto.
Unu venko - unu akiro.
Unu morto - unu renoviganta spiro."

"Una existencia - un solo acto.
Un cuerpo - una tunica.
Un siglo - un día.
Un servicio - una experiencia.
Un triunfo - una adquisición.
Una muerte - un soplo de renovación."

André Luiz

=)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Divinizando o Homem

Eles só se conheciam pela internet. Trocaram muitas mensagens e fotos mas ainda não haviam se encontrado pessoalmente. Ele chegou primeiro na pizzaria que combinaram se encontrar. Ela veio logo em seguida. O coração dele saiu do compasso. Beijo no rosto. Como vai ? Vamos sentar ? E logo estavam olhando o cardápio em um canto aconchegante do restaurante. Ele a observou. Cabelos e olhos negros... traços orientais e vestido discreto e elegante. Pulseiras douradas e uma fina correntinha no delicado pescoço. Leve perfume de pétalas...

- Você trouxe as perguntas ? - Ela disse

- Ah, trouxe sim !

Numa das conversas pela internet, ele disse que queria saber mais sobre ela. Ela fez uma proposta que ele achou bem estranha...

- Então vamos nos encontrar... até lá, escolha três perguntas prá me fazer e eu escolherei três prá você. Pense bem no que vai me perguntar, viu ?

O garçom chegou e ele pediu um chopp. Ela pediu um suco de laranja sem açúcar. Pediram uma pizza com dois sabores. Ela perguntou:

- Que tal começarmos com as perguntas enquanto a pizza não vem ?

- Está bem... essa é minha primeira pergunta:

- Não, não... deixa eu começar... kkk...

- Está ok !

- Preparado !

- Totalmente !

Parece que ela apreciava aquela "brincadeira" pois um brilho de divertimento estava refletido em seus olhos.

- Fale sobre hábitos pessoais que são importantes a você.

- Hábitos pessoais ? Acho importante interagir com as pessoas... acho muito estranho quando as pessoas não se olham e não conversam... é sempre bom conhecer novas pessoas e saber de seus sucessos e seus dramas. Não sou do tipo que coloca fones de ouvido e fica isolado da multidão. Gosto sempre de estar alerta para as belezas da vida e, também, alerta para ajudar alguém. Acho importante levantar de manhã já com pensamentos positivos para esse dia que está para começar... é importante ajudar um cego a entrar no trem... ajudar uma criança a fazer um origami em uma entediante sala de espera... é importante respeitar os animais... o amor, o carinho, a amizade, a higiene, o respeito, a prece antes de dormir, o "bom dia", o "obrigado"... tudo isso é importante e faz parte dos meus hábitos diários...

Foi difícil prá ela esconder a emoção pois o que ele lhe respondeu ia de encontro com com tudo que ela acreditava. Então ele pediu licença prá fazer sua primeira pergunta:

- Além do amor, que outro aspecto leva um casal a manter uma relação saudável por muitos anos ?

- O amor deve vir acompanhado de: amizade, companheirismo, entrega e desejo sexual pelo parceiro, sinceridade e honestidade sem jogos... similaridade de ideais e gostos pessoais de entretenimento para que possam traçar metas e aproveitar passeios em conjunto, mesmo que tenham outras metas ou gostos individuais... e que possam ter seus momentos a sós, sem que isso abale o equilíbrio do relacionamento. A entrega, a aceitação e compreensão são essenciais, além do que muito humor para lidar com as situações que surgirem. Não existe relacionamento perfeito... existe sim a adaptação de nossa vida a esse relacionamento. Se valer a pena, por que não ? Bom, acredito que essa seja uma forma madura de encarar o amor. Drummond fez um poema que retratava o amor, que diz mais ou menos assim: "O amor é um privilégio de maduros, é isso o amor, o ganho não previsto. O amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda ciência herdada, ouvida. Amor, começa, tarde."

Ele não sabia como disfarçar toda admiração pelas palavras que representaram a resposta dela... nesse instante as bebidas chegaram, trazidas pelo mesmo garçom. Um silêncio agradável entre eles antes da próxima pergunta. Ela lhe disse, de maneira imperativa e alegre:

- Agora é minha vez !

Ele tomou mais um gole de sua bebida e disse:

- Pode fazer a segunda pergunta... já estou pronto !

- Como você age quando está com raiva ?

Ele hesitou um pouco prá responder pois ficou tentanto imaginar o motivo pelo qual ela fez essa pergunta. Talvez fosse por alguma experiência desagradável com alguém... por isso ele foi cauteloso e sincero na resposta.

- Bom, eu sou uma pessoa muito pacata. Já tentei sentir raiva e brigar mas essa postura vai contra a minha natureza. Na verdade eu nem lembro qual a sensação de odiar pois é um sentimento que não possuo. Tenho meus defeitos que procuro minimizar dia a dia mas a ira é um pecado capital que julgo superado. Resumindo: Não sei odiar.

- Quer dizer então que você não sabe odiar ?

- Exatamente !

- Vou fingir que acreditei... kkk...

- Tudo bem ! kkk... Posso fazer minha pergunta ?

- Pode sim !

- O que você aprendeu com os relacionamentos anteriores ?

- A atração (paixão ou qualquer termo similar) pode criar ilusões e fantasias sobre essa pessoa e isso eu aprendi que é o mais importante: ver a pessoa como ela é, sem máscaras... é um exercício que procuro fazer, ver a realidade. Não sou mais tão jovem para escolher paixões que são passageiras. Quero construir um futuro ao lado de uma pessoa, e para isso, levarei em conta o quanto sinto de emoção por essa pessoa, mas sem deixar de levar em conta o caráter, qualidades e defeitos dessa pessoa. As pessoas podem mudar ? Sim, podem, mas cada um a seu tempo e sinto que ninguém tem que mudar ninguém. É necessário aceitar a pessoa como ela é. O que posso fazer é avaliar comigo mesma se as qualidades e defeitos dessa pessoa formam um peso muito grande que eu não possa lidar. Não sei se consegui me explicar... mas, resumindo: colocar na balança as características pessoais dessa pessoa deve ter tanto peso quanto a atração que eu sentir por ela.

Nesse instante chegou a pizza e o garçom os serviu. Eles conversaram um pouco mais sobre a última resposta dela, que ele não havia entendido bem. Quando se deu por satisfeito, ela fez a sua terceira pergunta:

- O que você poderia começar a fazer hoje que mais aumentaria a qualidade de sua vida ?

- Julgo que já tenho uma ótima qualidade de vida. Moro num bairro bem agradável, onde encontro tudo que necessito. Minha família é muito boa. Tenho uma saúde impecável e um ótimo emprego. Acho que a única coisa que falta, que poderia aumentar a qualidade da minha vida seria uma companheira, uma namorada... kkk...

Ela achou divertido a franqueza dessa resposta, que era curta e objetiva... então ele se preparou prá fazer sua última pergunta:

- Olhando para o passado, existe algum evento em sua vida que você gostaria de ter agido de forma diferente ?

Por um instante ela ficou em silêncio e seu rosto perdeu a cor... ele ficou perplexo diante disso. Antes que ele pudesse tomar alguma ação ou ao menos tentar entender o que estava acontecendo, ela já estava chorando baixinho... Ele pediu um copo com água e uma caixinha de lenços descartáveis para o garçom. Quando ela retomou parte do equilíbrio emocional, contou que seu pai, hoje já falecido em um acidente de trânsito, era extremamente cruel com ela e sua mãe. Quando ela tinha oito anos, encontrou no terreno ao lado de sua casa um pequenino filhote de gato que acabara de nascer e que fora abandonado pela mãe. Quando seu pai soube, a chamou no quintal e pediu que ela enchesse um balde com água. Então seu pai ordenou que ela não fechasse os olhos e observasse tudo, para aprender a lição. Seu pai então pegou o felino e o submergiu na água do balde. Ela o viu agonizando entre as lágrimas que saiam de seus olhos, que ela queria fechar mas não fechou, pelo terror que ela sentia de seu pai. O gatinho se afogou e seu pai jogou seu corpo inerte em uma lata de lixo e disse:

- Nunca mais traga animais aqui, você entendeu ???

Depois que ela contou esse fato, ele ficou morrendo de remorso por ter feito aquela pergunta mas... como prever esse desfeixo ? Decidiram ir embora. Depois de pagarem a conta, já em frente do restaurante, ela segurou em seu braço e lhe disse:

- Obrigado !

- Obrigado pelo quê ?

- Eu nunca havia contado isso prá ninguém... carregava esse acontecimento comigo como um fardo. Já estou me sentindo bem melhor !

- Você lembrou disso por causa da pergunta que eu te fiz ?

- Sim... eu sempre ficava me culpando por não ter agido de outra forma, talvez escondendo o gato ou outra coisa... Mas não se culpe pois a idéia das perguntas foi toda minha... kkk...

Ele a levou em uma praça próxima e lhe entregou uma folha, que continha as seguintes palavras:

"Deus não é feliz.
Deus é "a felicidade !"

Mas...

Mesmo assim...

Num momento especial...
Num instante de inspiração...
Num segundo de infinita alegria...
...Ele criou você !

Com os mesmos pincéis e cores
que criou as orquídeas
Ele coloriu e modelou
seu lindo rosto.

Com a mesma técnica
que concebeu e desenvolveu
a mais pura e linda seda
Ele fez seus belíssimos cabelos
em cascatas brilhantes e perfumadas,
a desaguarem nos seus ombros.

Deus te criou...
...e agradeço a Ele por isso."

Impossível descrever as emoções que explodiram no peito dela. Ela leu com os olhos úmidos o texto.

- Você escreveu prá mim ?

- Sim !

- "Divinizar o homem..."

- O quê ?

- Ah, desculpe... Esse poema me lembrou um poema que eu e minhas amigas recitamos em um jogral, na semana de poesia da escola, há muito tempo. Não lembro o nome do autor. Eu recitei tanto ele que até o decorei. Quer ouvir ?

- Sem dúvida !

"A geometria das flores.
A aerodinâmica das aves.
A lógica das bactérias.
A matemática das galáxias.
A física do cristal de neve.

Que parâmetros devemos usar
para definir o indefinível ?

Que referências usaremos
para explicar o Eterno,
o Infindável ?

Como entender
a inteligência e bondade
acima de qualquer escala humana ?

Humanizar Deus não é o caminho...
Divinizar o homem é o roteiro certo..."

Ele acompanhou com muito amor toda seqüencia de palavras que saiu de sua boca... também estava bem emocionado. Nesse instante começou a chover... ela pegou uma sombrinha que estava em sua bolsa e pediu prá que ele abrisse e disse, também, que já estava tarde. Sua mãe já deveria estar preocupada. Pediu para que ele a levasse no ponto de ônibus. Eles se abraçaram e foram caminhando e trocando confidências... Daí prá diante, não há mais necessidade de narrativa pois todos já devem saber o que aconteceu depois...

=)


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