domingo, 1 de março de 2009

Mistério e Luar

Durante o intervalo Ensino Médio, a encontrei, como acontecia todas as noites.

- Tadeu, você já montou seu acervo de poesias ?


- Estou montando a pasta, amiga. Você tem algum texto que eu possa anexar ?

- Tenho só um.

- Está com você ?

- Sim !

Estava uma baderna na escola. Muito barulho, paqueras e som de cantorias e violão. Mas o que esperar de jovens cheios de energia e esperança ? Tudo isso era muito natural para nós. Sentamos no palco de concreto e ela me entregou a folha com o poema e eu li rapidamente.

- Gostou Tadeu ?

- Adorei amiga !!! Posso colocar junto das outras ?

- Tá ok ! Mas me mostre no sábado !!!

- Posso perguntar uma coisa ?

- Claro !

- Você estava meio revoltada quando escreveu isso aqui, né ? kkk

- kkkk...

Eu já havia começado a montar a pasta com meus poemas e de meus amigos. Os primeiros já estavam prontos com as montagens que eu fazia, dos textos com imagens. Fiquei pensando em uma figura que ilustrasse o poema da minha amiga e logo me veio em mente a foto que tem no encarte do disco da Legião Urbana “Dois”. Aquela foto do casal, de costas, andando na praia, me parecia muito adequada. Então preparei a imagem e coloquei o texto sobre ela. Ficou muito bonito. Anexei na pasta.

No sábado a tarde ela veio em casa, como combinado. Sentamos no sofá e começamos a ver as poesias que eu coloquei naquela pasta preta, com plásticos para folhas A4. O primeiro era meu.

Utopia

"É difícil explicar o que senti
quando observei o fulgor em seus olhos,
que expressam mais mistérios que o infinito:
Era como se ouvisse o silêncio
criando as trevas com a luz
e o silêncio com os sons.
Tentei abraçar os raios do Sol
imaginando seu corpo.
O sinuoso navegar das folhas de uma árvore
no ar em movimento
lembram-me seus cabelos ao vento.
Qualquer brilho lembra seu olhar.
Fiquei perdido
pois antes achava
que a perfeição
era uma utopia."


- Esse eu escrevi prá você...

Ela ficou constrangida quando eu disse aquilo pois o poema era praticamente uma declaração de amor. Seu rosto enrubesceu, destacando ainda mais seus olhos verdes e seus cabelos castanhos. Ficou um clima estranho. Silêncio... então eu disse prá ela continuar vendo. Logo chegamos no poema que ela havia feito.


“A obscuridade, o prazer
a felicidade, a sofreguidão;
os amigos, as infidelidades;
o amor, o ódio.

Sentimentos que caminham lado a lado
em algum ser que está por aí,
em dúvida em relação ao mundo.

Revoltado por natureza,
triste por sofreguidão,
insensível por necessidade,
tentando decifrar os mistérios do mundo;
mas como ????
se nem o seu próprio mistério
ele decifrou.”


No fim do poema eu escrevi um elogio de incentivo para ela. Então ela começou a s
oluçar baixinho, mal conseguiu balbuciar um “valeu cara”, e colocou seu rosto em meu peito. Enquanto minha camiseta absorvia algumas de suas lágrimas, eu sentia o perfume que evolava de seus cabelos. O que eu poderia dizer nesse momento ? Achei melhor ficar em silêncio. As vezes as palavras podem estragar a poesia de um momento inesquecível. Logo ela levantou o rosto e limpou as lágrimas com suas mãos delicadas. Um sorriso inesquecível figurava em seu rosto.

- Vamos dar um passeio Tadeu !!!

- Claro !

Ela pegou em meu braço de maneira impulsiva e levantamos. Já havia escurecido.

Estava uma linda noite de verão, com direito a lua cheia...

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