Sábado. Estava sozinho em casa. Estava triste. Meu filho havia saído com a namorada e meus pais tinham ido dançar. No fundo, bem lá no fundo, eu sabia porque estava me sentindo assim. Fiquei assistindo televisão até as 23 horas pois meus pais poderiam me ligar para que eu os fosse buscar no baile. Não ligaram e eu fui dormir pois iria trabalhar no domingo. Fechei a porta da sala e fui para meu quarto. Olhei para o céu e fiquei estático... atrás das nuvens, que se moviam rapidamente, lindas e multicoloridas estrelas iluminavam o firmamento. Lembrei de um documentário que vi que falava dos choques de galáxias, planetas e estrelas. A via láctea se move na direção da galáxia de Andrômeda e as duas irão colidir num futuro muito distante. Nessa noite quente, fiquei olhando para o céu e tentava imaginar esse choque. Pode se dizer que alguma coisa tem fim no nosso universo ? No centro de cada galáxia existe um buraco negro e quando duas galáxias colidem, esses buracos negros se fundem e se tornam "super-buracos-negros". Pode-se dizer que esse evento marca o fim de duas galáxias mas, também, pode-se afirmar que é o início de uma nova e colossal galáxia... tive ímpetos de subir na lage do meu quarto, deitar ao lado da parabólica e ficar olhando o céu por tempo indeterminado mas lembrei que acordaria cedo no domingo. Fui deitar e, no escuro, enquanto ouvia o apito distante de um trem de carga, lembrei de uma estória que li, há muito tempo:
"Uma jovem mulher, tendo perdido seu primeiro filho, estava tão desolada e aflita que perambulava pelas ruas, implorando algum remédio mágico que pudesse restituir a vida do menino. Alguns se afastavam com piedade; outros riam e a consideravam louca; ninguém tinha palavras para consolá-la. Até que um velho sábio, notando seu desespero disse:
- O remédio existe. Fale com o Ser Perfeito que reside no alto da montanha. Vai até ele pedir.
A jovem mulher subiu a montanha e, de pé, diante do Ser Perfeito, suplicou:
- Ó Buda, devolvei a vida de meu filho.
E o Buda disse:
- Volta para cidade, vai de casa em casa e traze-me um grão de mostarda de uma casa onde ninguém tenha jamais morrido.
O coração da mulher estava cheio de esperança quando ela desceu a montanha às pressas e correu para a cidade. Na primeira casa em que bateu, disse:
- O Buda me mandou conseguir um grão de mostarda de uma casa que nunca tenha conhecido a morte.
- Nesta casa muitos já morreram - disseram-lhe.
Assim ela seguiu para a próxima casa e perguntou de novo.
- Impossível contar o número dos que já morreram aqui, foi a resposta.
Ela foi à terceira casa, e à quarta, e à quinta, e mais e mais, através da cidade e não pode encontrar uma só casa que a morte já não tivesse visitado. Assim, a jovem mulher voltou ao topo da montanha.
- Trouxeste o grão da mostarda ? - Perguntou Buda.
- Não - disse ela - nem procurei mais. A dor e o desespero me tornaram cega; pensava que somente eu tinha sofrido nas mãos da morte.
- Então por que voltaste - insistiu o Ser Perfeito.
- Para pedir-vos que me ensineis a verdade - respondeu a mulher.
E foi isto que Buda disse:
- No mundo do homem e no mundo dos deuses, a Lei é uma só: todas as coisas são passageiras."
Sim... sim... eu sei porque estou triste. Feridas mal curadas deixam cicatrizes inimaginavelmente profundas. Existem fantasmas que ficam circulando nos porões dos porões da nossa mente e, a despeito dos séculos que passam, eles devem ser enfrentados e derrotados pois se fortalecem e crescem com a energia do nosso medo.
Não... Não podia dormir... então abri a janela e aquele céu maravilhoso estava lá, agora sem nuvens. Foi nesse instante que aconteceu... vi uma estrela cadente... depois duas... três... fiquei maravilhado e, inevitavelmente, sorri. Então compreendi que essa é minha natureza... sorrir... ir contra um sorriso é ir contra minha essência. Aí sim o sono veio e fiquei torcendo prá voar até alguma daquelas estrelas distantes...
=)
"Uma jovem mulher, tendo perdido seu primeiro filho, estava tão desolada e aflita que perambulava pelas ruas, implorando algum remédio mágico que pudesse restituir a vida do menino. Alguns se afastavam com piedade; outros riam e a consideravam louca; ninguém tinha palavras para consolá-la. Até que um velho sábio, notando seu desespero disse:
- O remédio existe. Fale com o Ser Perfeito que reside no alto da montanha. Vai até ele pedir.
A jovem mulher subiu a montanha e, de pé, diante do Ser Perfeito, suplicou:
- Ó Buda, devolvei a vida de meu filho.
E o Buda disse:
- Volta para cidade, vai de casa em casa e traze-me um grão de mostarda de uma casa onde ninguém tenha jamais morrido.
O coração da mulher estava cheio de esperança quando ela desceu a montanha às pressas e correu para a cidade. Na primeira casa em que bateu, disse:
- O Buda me mandou conseguir um grão de mostarda de uma casa que nunca tenha conhecido a morte.
- Nesta casa muitos já morreram - disseram-lhe.
Assim ela seguiu para a próxima casa e perguntou de novo.
- Impossível contar o número dos que já morreram aqui, foi a resposta.
Ela foi à terceira casa, e à quarta, e à quinta, e mais e mais, através da cidade e não pode encontrar uma só casa que a morte já não tivesse visitado. Assim, a jovem mulher voltou ao topo da montanha.
- Trouxeste o grão da mostarda ? - Perguntou Buda.
- Não - disse ela - nem procurei mais. A dor e o desespero me tornaram cega; pensava que somente eu tinha sofrido nas mãos da morte.
- Então por que voltaste - insistiu o Ser Perfeito.
- Para pedir-vos que me ensineis a verdade - respondeu a mulher.
E foi isto que Buda disse:
- No mundo do homem e no mundo dos deuses, a Lei é uma só: todas as coisas são passageiras."
Sim... sim... eu sei porque estou triste. Feridas mal curadas deixam cicatrizes inimaginavelmente profundas. Existem fantasmas que ficam circulando nos porões dos porões da nossa mente e, a despeito dos séculos que passam, eles devem ser enfrentados e derrotados pois se fortalecem e crescem com a energia do nosso medo.
Não... Não podia dormir... então abri a janela e aquele céu maravilhoso estava lá, agora sem nuvens. Foi nesse instante que aconteceu... vi uma estrela cadente... depois duas... três... fiquei maravilhado e, inevitavelmente, sorri. Então compreendi que essa é minha natureza... sorrir... ir contra um sorriso é ir contra minha essência. Aí sim o sono veio e fiquei torcendo prá voar até alguma daquelas estrelas distantes...
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