quinta-feira, 11 de junho de 2009

Nove Anos

Segunda feira. Minha mãe chamou eu e o Sandro prá nos dizer sobre nossa festinha de aniversário que seria na sexta feira. Eu iria fazer 9 anos e o Sandro 7. Ela nos disse que iria fazer uma festa prá nós dois pois não era possível fazer duas festas. Só havia dinheiro prá fazer um bolo. Meu pai nos levou na cidade prá que escolhêssemos nossos presentes. Fomos num sebo e eu escolhi um disco de vinil que estava escrito na capa "Hit Parade". No futuro esse disco iria ser muito requisitado em nossos "bailinhos da vitrola" kkk... Não lembro o que o Sandro escolheu. Quando voltamos da cidade, minha mãe me deu uma cartolina branca e perguntou se eu não conseguiria fazer uns convites para alguns amiguinhos mais próximos, umas 15 a 20 crianças, conhecidos e parentes meus e do Sandro. Eu disse que sim e então ela cortou a folha em uma porção de retângulos pequenos. Então eu fazia um desenho que copiava dos gibis (Mônica, Cebolinha, Recruta Zero, etc) e escrevia, a mão mesmo, um singelo convite para sexta a noite. Na noite da comemoração, logo a patota começou a chegar... o som era do disco na vitrola e as brincadeiras eram esconde-esconde ou pega-pega. Os únicos enfeites eram bandeirinhas da festa junina que haviam sido doadas por alguém. Geralmente nossas festas tinham essas bandeirinhas porque nossos aniversários sempre eram comemorados em junho. Quando chegou a hora de cantar parabéns e cortar o bolo todas crianças ficaram em volta dele com olhares de desejo. Meu pai tirou algumas fotos. Todos comeram um ou mais pedaços do bolo de chocolate e foram para suas casas. Na manhã seguinte, o "Chiclete" passou em casa com seu pneu. Naquela época a mania era andar por aí rodando pneus velhos. Nós imaginávamos que eram carros de verdade. Eu também tinha meu pneu... kkk...

- Oi Tadeu ! Vamo na casa do Fejão ?

- Vamo !

Fui buscar meu pneu. Minha mãe perguntou:

- Você vai almoçar aqui filho ?

- Não. Vou al
moçar na casa do Marcelo, tá ?

- Tá bom. Vai com Deus.

Naquela época nós não conhecíamos "telefone". Nós só havíamos visto esse aparelho pela TV, nas novelas e nos desenhos animados que víamos em preto e branco. Por isso minha mãe quis saber se eu ia almoçar em casa. Quando foi instalado o primeiro orelhão no bairro nós ficamos olhando fascinados para ele, como se fosse algo de outro mundo... kkk... Quem vê o bairro do Socorro hoje nem faz idéia de como aqui já foi carente. Bom, eu e o Chiclete saímos rodando nossos pneus em direção a casa do Marcelo e, posteriormente, até a casa de outras crianças. Logo éramos uma turma rodando nossos pneus pelas ruas de terra. Ao passarmos em frente da padaria do Dito, (que existe desde sempre) pegamos algumas tampinhas de garrafa que estavam em frente a calçada prá depois fazermos nossa "corrida de tampinha". Saímos de lá e fomos no terreno onde havia uma enorme paineira onde nós costumávamos brincar sob a sombra acolhedora de seus enormes galhos. O terreno era arenoso e ideal prá nós fazermos a pista da corrida de tampinhas. "Estacionamos" nossos pneus e começamos a preparar a pista de corrida, que era feita com um pequeno pedaço de madeira (que parecia uma régua) que era puxada sobre a areia formando, assim, a pista. Colocávamos pequenos obstáculos, rampas, curvas, para tornar a corrida mais emocionante. Era como se fosse uma pista de "motocross" em miniatura. Tínhamos direito a dar 3 toques com o dedo na lateral da tampinha que deslizava sobre a pista. Passamos a manhã toda brincando. Fui almoçar na casa do Marcelo. Entrei na singela casa de meu amigo e encontrei com sua avó que macetava algo no velho pilão. Ela me disse que estava fazendo paçoca prá gente...
F
iquei até com água na boca... Nosso almoço foi um prato de virado acompanhado de um copo de água. Estava muito gostoso. Quando a paçoca ficou pronta nós a comemos assistindo o "Bat-fino" que estava passando na Record. Depois do almoço decidimos andar de carrinho de rolemã. Como a rua da casa do Marcelo era uma das poucas asfaltadas na época, era prá lá que íamos sempre. As vezes apostávamos corridas, outras vezes descíamos a ladeira prá fazer as rolemãs soltarem faíscas nas curvas forçadas... mas o que eu mais gostava mesmo era de sentar no carrinho e riscar estradas segurando um tijolo em cada mão, enquanto alguém me empurrava. Nós fazíamos um verdadeiro complexo viário com todos aqueles riscos em cima do asfalto. Tinha carrinho-polícia, carrinho-ambulância e tudo mais que nossa criatividade permitisse. Era fatal acontecerem acidentes nos cruzamentos... kkk... Num dado momento a patota fez uma "rodinha" e ficou cochichando... cheguei de mansinho e descobri que falavam de mim... fiquei com vergonha pois alguém havia descoberto que eu tinha escrito "Cláudio ama Simone" num dos galhos da paineira... é que eu era apaixonado pela irmã do Chiclete mas nunca imaginei que alguém pudesse subir tão alto como eu naquela paineira e ler o que eu escrevi raspando um prego na casca da árvore... kkk... Nossa, já estava escurecendo e eu achei melhor ir embora.


- Péra mais um pouco Tadeu ! Nós vamos fazer uma fogueira ! O Fejão já trouxe até as batatas e o Chiclete foi buscar o sal !

Logo as batatas estavam sendo assadas ao crepitar das madeiras, no fogo. Era fascinante, algo sobrenatural, conversar e ver as expressões das crianças banhadas pela luz ondulante do fogo. Nunca faltava assunto naquela roda. Falávamos das meninas, da escola, de fantasmas e de tudo que viesse em nossa mente !
Dep
ois de comer as batatas com sal, achei melhor ir embora pois pensei que minha mãe devia estar preocupada. A turma permaneceu em volta da fogueira. Quando cheguei em casa, minha mãe ficou espantada. Eu não entendi por que. Ela disse:

- Olhe no espelho filho !

Quando olhei no espelho vi o quanto estava sujo... verdadeiramente encardido !!! O cascão que o diga... kkk... Depois de tomar um banho caprichado, fui assistir meus programas prediletos de fim de noite: Ultra Seven e Fantomas... Depois dos programas não aguentei, cai dormindo ali no sofá mesmo... ouvi dizer que meu pai é que me levou para a cama... kkk...

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